O significado da pintura de Dudu Garcia é circular. Seu destino, como o de toda pintura, é a parede, o muro. Mas no caso específico de suas pinturas essa ideia parece ainda mais pertinente.
Desse ponto de vista poderíamos, então, pensar a história da pintura como história da parede: das cavernas pré-históricas, em que a intervenção pictórica integrava-se à natureza da pedra, dos muros de templos e palácios do Egito, Babilônia, Creta, Pompéia, México, Cuzco, etc. recobertos de imagens, até a invenção do quadro, que liberta do edifício podia ser agora deslocada para qualquer outro muro.
A história da pintura também poderia ser pensada do ponto de vista dos diversos sistemas de organização espacial, seja pelo desenho, pela cor ou por hierarquias sociais e religiosas. O espaço perspectivado e sombreado da arte clássica, o teor planar da pintura moderna, foram sistemas poderosos a orientar e informar a produção artística por gerações.
Mas o pintor contemporâneo não conta mais com esses sistemas espaciais coletivos que antes informavam e emprestavam sentido ao conjunto das pinturas de uma época específica. O principal desafio daqueles que querem pintar passou a ser, portanto, o da invenção de um sistema próprio (ainda que referenciado por trabalhos de outros artistas) que possa emprestar sentido à sua obra e a faça ultrapassar repertórios do senso comum tais como: o quadro seria uma superfície vazia a ser preenchida pelo talento, a sensibilidade e a habilidade técnica do artista. Sua expressão artística traz à tona um mundo interior, dado desde sempre, como se a razão e a inteligência não fossem tão necessárias à criação, quanto a sensibilidade.
Dudu Garcia conseguiu produzir um sistema fundado na experimentação das possibilidades poéticas de uma pintura que extrai sua ordem espacial básica das marcas do tempo e dos homens deixadas sobre paredes e outras superfícies reais.
O belo resultado obtido não decorre, no entanto, de pulsões decorativas uma vez que resulta de conceito e acaso. Dudu expõe aquilo que o quadro (entendido como janela móvel na Renascença), antes, costumava cobrir (parede). No lugar da janela, partes e fragmentos de paredes.
Suas pinturas situam-se, como vimos, entre duas superfícies fundamentais para a história da pintura – parede e quadro, superfícies por excelência do exercício pictórico, que aqui se remetem incessante e circularmente nesses trabalhos de Dudu Garcia, sublinhando uma tensão real, ineliminável de toda e qualquer tela.
Exposição no Centro Cultural dos Correios, 2014
O significado da pintura de Dudu Garcia é circular. Seu destino, como o de toda pintura, é a parede, o muro. Mas no caso específico de suas pinturas essa ideia parece ainda mais pertinente.
Desse ponto de vista poderíamos, então, pensar a história da pintura como história da parede: das cavernas pré-históricas, em que a intervenção pictórica integrava-se à natureza da pedra, dos muros de templos e palácios do Egito, Babilônia, Creta, Pompéia, México, Cuzco, etc. recobertos de imagens, até a invenção do quadro, que liberta do edifício podia ser agora deslocada para qualquer outro muro.
A história da pintura também poderia ser pensada do ponto de vista dos diversos sistemas de organização espacial, seja pelo desenho, pela cor ou por hierarquias sociais e religiosas. O espaço perspectivado e sombreado da arte clássica, o teor planar da pintura moderna, foram sistemas poderosos a orientar e informar a produção artística por gerações.
Mas o pintor contemporâneo não conta mais com esses sistemas espaciais coletivos que antes informavam e emprestavam sentido ao conjunto das pinturas de uma época específica. O principal desafio daqueles que querem pintar passou a ser, portanto, o da invenção de um sistema próprio (ainda que referenciado por trabalhos de outros artistas) que possa emprestar sentido à sua obra e a faça ultrapassar repertórios do senso comum tais como: o quadro seria uma superfície vazia a ser preenchida pelo talento, a sensibilidade e a habilidade técnica do artista. Sua expressão artística traz à tona um mundo interior, dado desde sempre, como se a razão e a inteligência não fossem tão necessárias à criação, quanto a sensibilidade.
Dudu Garcia conseguiu produzir um sistema fundado na experimentação das possibilidades poéticas de uma pintura que extrai sua ordem espacial básica das marcas do tempo e dos homens deixadas sobre paredes e outras superfícies reais.
O belo resultado obtido não decorre, no entanto, de pulsões decorativas uma vez que resulta de conceito e acaso. Dudu expõe aquilo que o quadro (entendido como janela móvel na Renascença), antes, costumava cobrir (parede). No lugar da janela, partes e fragmentos de paredes.
Suas pinturas situam-se, como vimos, entre duas superfícies fundamentais para a história da pintura – parede e quadro, superfícies por excelência do exercício pictórico, que aqui se remetem incessante e circularmente nesses trabalhos de Dudu Garcia, sublinhando uma tensão real, ineliminável de toda e qualquer tela.
Exposição no Centro Cultural dos Correios, 2014